Geração de valor para toda a sociedade.

Esse último fator estimula o produtor a assumir maiores riscos em sua operação, levando-o a uma assimetria ao ter de lidar com o desafio climático – o maior dos últimos 100 anos.

Neste cenário, dois dos nossos pilares fundamentais de gestão, o foco conservacionista e a interlocução com os atores sociais locais, mostraram ser ferramentas eficientes para lidar com esses movimentos assimétricos de mercado.

Como exemplo desse foco conservacionista estão a implantação dos “carreadores vegetados” em detrimento do uso de máquinas nas estradas e carreadores e o respeito às linhas de drenagem como forma de assegurar uma melhor infiltração da água no solo. Basicamente procuramos intervir minimamente no solo para manter sua estrutura física, sempre visando à maior conservação dos recursos hídricos – que acabam por arrastar fertilizantes e camada superior do solo para as partes mais baixas dos terrenos, assoreando rios, contaminando corpos d’água e afetando comunidades ribeirinhas.

Por essa ação defensiva, mais eficiente frente aos impactos das ocorrências climáticas, nossas florestas sofreram menos com o déficit hídrico se comparadas às propriedades do entorno, mostrando maior resiliência e validando as práticas do manejo adotado.

Nossa atuação na recuperação de áreas contempla ainda a interlocução constante com os colaboradores – residentes nas comunidades locais – e o respeito pelo conhecimento prático.

Alinhada à nossa intenção de reduzir o uso de produtos químicos, acatamos a sugestão de um desses profissionais, de substituir a aplicação de herbicida em nossas fazendas por capina física com uma lâmina invertida – equipamento criado por ele e que passou a ser adotado em toda a região. A ideia, portanto, não é apenas nos valermos da experiência de quem está no dia a dia da operação, mas compartilhá-la, beneficiando o maior número possível de pessoas.

Essa forma de gerir os negócios atende ao propósito que motivou nossa criação, de atuarmos como um vetor de transformação social, ainda que em um microuniverso. O objetivo vem sendo alcançado com responsabilidade e adoção de boas práticas, o que resulta na entrega de retorno financeiro consistente aos investidores e alimenta um círculo virtuoso com a abertura de novas possibilidades a todos os envolvidos nos projetos. Independentemente da cultura cultivada, nosso grande diferencial é o processo de produção, de transferência de conhecimento e de geração de oportunidades para as pessoas impactadas direta ou indiretamente.

Sob essa perspectiva, nossa nova estratégia é ofertar, a partir de 2023, serviços ecossistêmicos. No final de 2022 e início de 2023 conduzimos processo de desinvestimento de todo o cluster florestal no Estado do Mato Grosso do Sul. Estamos em fase préoperacional de projetos de recuperação de áreas degradadas na Região Norte, no bioma amazônico, com regeneração de floresta nativa e implantação de sistema agroflorestal, visando à produção de serviços ecossistêmicos, em especial o sequestro de carbono. Esse mercado em formação, que vem gradualmente se regularizando, apresenta demanda crescente – razão pela qual, com base em nossas experiências anteriores, pretendemos contribuir para que se consolide como um investimento revestido de propósito. Tanto que aliaremos ao sequestro de carbono à execução de um sistema agroflorestal, mantendo a lógica de envolvimento das comunidades e adotando a primarização da mão de obra, de forma a simplificar as decisões relacionadas a aspectos estratégicos e estimular a geração de emprego e renda para o entorno.

A ideia é conduzir projetos longevos, de cerca de 30 anos – tempo para que ele se consolide e haja a transferência de tecnologia, gestão e aprendizado às futuras gerações, organizadas, por exemplo, em cooperativas. Afinal, esse é o real conceito de sustentabilidade: adotar iniciativas que sejam perenes e transferíveis, com capacidade de gerar valor continuamente a toda a sociedade.

Leonardo Bonetti e Marcelo Trapé

Sócios-operacionais